Gastos públicos e privados na saúde
Jornal da USP, 03/07/2025
Por algumas vezes escrevi, neste e em outros jornais,
artigos comparando o custo da educação superior privada com o da educação
pública, utilizando os orçamentos da USP como referência. A conclusão é que,
para um mesmo curso e com a mesma qualidade, o custo no setor público é igual
ou menor do que no setor privado. O mesmo ocorre no setor da saúde.
O orçamento total do SUS, incluindo gastos das três esferas
de governo, representa cerca de 4% do PIB brasileiro, o que equivale a menos de
R$ 200 por mês, por pessoa. Nenhum sistema privado de saúde conseguiria
oferecer o mesmo nível de serviço oferecido pelo SUS com um orçamento tão
baixo. Assim como na educação superior, essa realidade evidencia a
superioridade do setor público.
Dados internacionais confirmam essa superioridade do sistema
público quando os critérios considerados são indicadores de saúde. Uma
comparação entre os EUA e o Reino Unido ilustra bem isso.
Nos EUA, 45% do financiamento do sistema de saúde é privado;
são pagamentos feitos pelos usuários a seguradoras privadas para compra de
produtos e serviços. Devido a essa privatização, os gastos com saúde naquele
país são elevados, representando cerca de 18% do PIB, ou mais de US$ 14 mil
anuais por pessoa.
O Reino Unido, por sua vez, destina aproximadamente 12% do
seu PIB à saúde, valor significativamente menor, com apenas 20% dele privado.
No Reino Unido o atendimento é universal, enquanto nos EUA uma em cada 12
pessoas não tem acesso à saúde.
Considerando o PIB per capita de ambos os
países, vemos que a soma dos gastos com saúde no Reino Unido é aproximadamente
metade dos gastos nos EUA. No entanto, seus resultados de saúde são melhores: a
expectativa de vida é dois anos maior; a expectativa de vida saudável, quatro
anos maior; a mortalidade infantil, menor. Talvez a superioridade do Reino
Unido se deva ao fato de que, diferentemente dos EUA, os gastos com saúde são
basicamente públicos.
Comparando com outros países de renda per capita semelhante,
que possuem sistemas de saúde públicos proporcionalmente maiores que os dos
EUA, confirma-se a superioridade do sistema público de saúde na promoção do
bem-estar da população.
Infelizmente, o Brasil segue o mesmo caminho dos EUA, ou até
pior: mais da metade dos gastos com saúde aqui são privados, superando os 45%
daquele país. As consequências são evidentes: altos e crescentes custos e
resultados insatisfatórios. Apesar disso, as políticas de privatização que
transformam saúde em mercadoria avançam rapidamente. A quem isso interessa?
Evidentemente, não à população.
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