Publicado originalmente n'A Terra é Redonda e, 8/7/2021
A
evolução da educação brasileira nos últimos 50 ou 60 anos, pelo menos no que
diz respeito aos indicadores quantitativos, foi muito significativa. Por volta
de 1970, 80% das crianças deixavam a escola antes de completar os 8 anos de
ensino (correspondente ao final do antigo ginásio). Como hoje, os excluídos
prematuramente eram os mais pobres: naquela época, concluir o antigo ginásio
era alguma coisa comum apenas na vida dos 20% com maiores rendas. Atualmente, a
taxa de abandono antes do ensino fundamental está abaixo dos 30%, uma bela
redução frente aos 80% de meio século atrás, embora os excluídos continuem a
ser os mais pobres.
Completar o ensino médio,
há pouco mais de meio século, era algo conseguido por um em cada dez jovens. Os
demais seguiriam a vida sem esse nível educacional. Atualmente, cerca da metade
dos jovens completa esse nível escolar, um crescimento marcante. A evolução do
ensino superior não foi menos significativa: hoje, uma em cada quatro ou cinco
pessoas completa esse nível educacional, contra uma em 25 há 50 anos.
Todos esses dados mostram
uma significativa evolução do nosso sistema educacional. Mas foi suficiente?
Não. O
Brasil nunca foi um país exemplar no que diz respeito ao desenvolvimento
educacional. Em todos os indicadores – desde a taxa de analfabetismo até a de
inclusão no ensino superior –, sempre ocupamos uma posição ruim entre os países
da América do Sul ao longo das últimas décadas. Atualmente, nossa taxa de
analfabetismo adulto é a segunda ou terceira pior nesse grupo de países,
segundo dados sistematizados e divulgados pela Unesco[i], apenas melhor do que a da
Guiana e praticamente igual à da Bolívia.
Nossos indicadores
educacionais menos ruins, como a inclusão no ensino superior ou o número
esperado de anos de escolarização da população, também nos colocam em uma
posição abaixo de maior parte dos nossos vizinhos. Mas mesmo esses indicadores menos
ruins vêm com um preço alto, pois é resultado das enormes desigualdades
econômicas do país, combinando um grande contingente de pessoas gravemente
subescolarizadas nos setores mais desfavorecidos economicamente com um pequeno grupo
bem escolarizado nos setores mais bem aquinhoados, acirrando as desigualdades do
país e projetando-as no futuro.
Houve períodos em que era
possível algum otimismo, não exatamente observando o que estava acontecendo,
mas imaginando que aqueles pequenos avanços poderiam ser sinais positivos a descortinar
um panorama mais interessante no futuro. Infelizmente, com a vitória, na força
bruta, de um projeto liberal extremado e com o atual ocupante da Presidência da
República (neste início de setembro de 2021), não há mais nenhuma maneira de se
procurar um horizonte mais promissor.
Se queremos reverter a
perspectiva de um futuro de atraso, ignorância, negacionismo e superstição,
devemos nos dedicar à tarefa de mudar a realidade educacional e denunciar não
apenas essa situação, mas, também, os grupos economicamente dominantes que a
sustentam e que sustentam o atual governo. Feito isso, basta construir um
sistema educacional não excludente e de boa qualidade. Difícil, não? Mas muito
mais difícil será o futuro se não fizermos isso agora.
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