Carta Capita, 24/3/2020, https://www.cartacapital.com.br/opiniao/as-contas-simples-que-explicam-a-complexidade-e-importancia-do-fundeb/
Não é raro encontrar pessoas que aleguem que o Brasil
investe um percentual do PIB na educação pública equivalente àqueles de países
mais desenvolvidos e que, concluem elas erroneamente, o problema não é falta de
recursos.
Mas
aqueles que fazem esse raciocínio esquecem, ou fingem esquecer, que a fração da
população brasileira na faixa etária correspondente à educação básica é uma vez
e meia maior – em alguns casos, até mais – do que aquela dos países com os
quais a comparação é feita. Também esquecem que nós temos graves atrasos
escolares, o que não ocorre nos países mais avançados. Portanto, se investimos
o mesmo porcentual do PIB que aqueles países mais avançados, não investimos o
suficiente nem para atender adequadamente a nossa população infantil e juvenil,
menos ainda para diminuir os nossos atrasos educacionais.
A matéria “O pirão é pouco” deixou bastante claro alguns
aspectos do sub financiamento da educação pública brasileira e dos truques
contábeis que pretendem fazer com que a população acredite que a situação não é
dramática e que as mudanças no Fundeb poderiam ser significativamente
positivas. Mas os dados citados naquela matéria permitem a realização de
algumas contas, que podem dar, aos leitores e leitoras, uma ideia aproximada do
tamanho do problema.
A
complementação da União para o Fundeb, da ordem de 15 bilhões de reais por ano,
pode parecer significativa, mas considerando o número de alunos envolvidos –
cerca de 40 milhões – vemos que tal valor corresponde a um real por dia por
aluno. Qualquer pessoa pode avaliar o impacto que pode representar um real por
dia. Se os recursos do Fundeb são significativos não é pelo seu volume absoluto,
mas porque são concentrados em regiões muito pobres e completamente carentes em
termos educacionais.
A mesma matéria cita, também, o orçamento anual da educação
básica pública brasileira, da ordem de 160 bilhões. Considerando novamente os
cerca de 40 milhões de alunos, uma conta simples indica que os investimentos
públicos para remunerar professores e demais trabalhadores e custear todas as
demais despesas escolares correspondem a não muito mais do que trezentos reais
por mês e por aluno. A realidade pode ser ainda pior, uma vez que despesas
previdenciárias são comumente consideradas como sendo gastos públicos com
educação.
Ainda
que aproximados, esses valores, quando medidos em uma escala “por estudante”,
dão uma ideia mais precisa da realidade, coisa que pode não ser percebida
quando as cifras estão em bilhões de reais e milhões de alunos. Afinal, todos
têm uma ideia dos valores de mensalidades escolares e, também, do impacto que um
real a mais por dia é capaz de provocar.
Vale observar que nenhuma escola privada conseguiria
oferecer uma educação equivalente à oferecida pelo setor público com aqueles
poucos recursos por estudante. Esse fato mostra, por um lado, a superioridade
da eficiência do setor público comparativamente ao setor privado na oferta da
educação e revela, por outro lado, a dedicação dos professores e demais
trabalhadores das escolas públicas.
Destruir
a escola pública, projeto explícito deste governo, que pretende abrir mais
espaço ainda para o setor privado mercantil, têm consequências gravíssimas para
o país e, em especial, para os segmentos populacionais e para as regiões mais
pobres.
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