Publicado originalmente no portal de educação do jornal Estado de S. Paulo, 22/2/2016
Os investimentos públicos em educação, feitos pelo governo federal,
pelos estados e pelos municípios, segundo dados oficiais, é da ordem de 5,2% do
PIB nacional. Como esse percentual inclui, entre outras despesas, complementos
previdenciários, investimentos em ciência e tecnologia, vários serviços
prestados à população e transferências para entidades privadas, os gastos em
educação pública no sentido estrito estão aquém daquele valor.
Por outro lado, uma estimativa com base nas arrecadações de impostos e
nas exigências constitucionais de investimentos mínimos em educação como
percentuais dessas arrecadações, adicionada ao salário-educação, indicam que os
investimentos públicos em educação estariam pouco acima dos 4% do PIB nacional.
Seja qual for o valor exato, uma pergunta cabível é: seriam esses recursos
suficientes? A resposta é “não”.
Pelo menos dois fatores são fundamentais para estabelecer o volume de
recursos necessários para a educação: o atraso acumulado e o tamanho da
população jovem. Nenhum país com um atraso educacional como o nosso – e
crescente, uma vez que, hoje, uma em cada quatro crianças abandona a escola
antes de completar o ensino fundamental e quase a metade dos jovens já estará
excluída do sistema antes de completar o ensino médio – conseguiria escolarizar
sua população com tão poucos recursos. Os valores típicos dos investimentos
públicos em educação nos países que superaram ou estão superando atrasos
educacionais graves foram ou são da ordem de 10% do PIB. Portanto, faltam-nos
outros cerca de 5% do PIB.
Quando os atrasos não existem, os investimentos públicos em educação
necessários apenas para manter um bom sistema educacional ficam entre 5% e 7%
do PIB, ou mesmo mais do que isso em alguns casos, variação que depende,
inclusive, do percentual de crianças e jovens na população. Enquanto alguns
países têm entre 25% e 30% de suas populações com idades de até 24 anos, outros
os têm em proporções superiores a 60%. Mesmo entre os países industrializados,
essa proporção pode variar bastante como, por exemplo, perto de 23%, no caso do
Japão ou na Alemanha, e 32% ou mais, nos dos EUA ou da Noruega. Como no Brasil,
essa proporção é da ordem de 40%, uma comparação internacional indica que,
apenas para manter um bom sistema educacional, sem recuperar os atrasos,
precisaríamos de cerca de 9% do PIB.
Essa insuficiência de recursos na média nacional também ocorre em cada
estado. Em alguns estados com proporções de pessoas até 24 anos superiores a
50%, os investimentos correspondem a valores próximos dos 6% dos respectivos
PIBs. Entretanto, considerando o tamanho relativo das populações jovens, esses
estados precisariam investimentos duas vezes superiores para atender
adequadamente suas crianças e jovens (e mais do que isso para também recuperar
os atrasos acumulados). Em estados com menores proporções de jovens, os
investimentos são mais baixos, como, por exemplo, cerca de 4% do PIB no caso
paulista. Mas considerando que esse estado tem 38% da população até 24 anos, os
investimentos necessários também precisariam ser bem maiores – pelo menos cerca
de duas aquele valor e, repetindo, sem considerar os atrasos a serem
recuperados.
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Mais sobre política educacional? Veja o índice do livro "Um Diagnóstico da Educação Brasileira e de seu Financiamento" clicando aqui.
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Entre as consequências do subfinanciamento da educação estão a baixa
remuneração dos professores das redes públicas, especialmente nas redes
municipais e estaduais de educação básica, o excessivo número de estudantes por
professor e o pouco tempo de permanência dos estudantes nas escolas. Portanto,
alta evasão escolar e desempenho insuficiente dos estudantes não devem ser
surpresas para ninguém.
Superar o problema do baixo investimento público em educação é
essencial, tanto para garantir a todas as pessoas as condições educacionais que
permitam plena inserção na sociedade como para formar os profissionais de que o
país tanto precisa, inclusive para viabilizar o crescimento da produção
econômica.
Durante vários anos, e de forma quase eufórica, os recursos do pré sal
foram considerados como uma espécie de salvação geral da educação nacional. Mas
essa expectativa era (e é) uma ilusão, como apontei em vários artigos ao longo
dos últimos dez anos, inclusive n`O Estado de S. Paulo (em
22/11/2008, pág. 2).
Entre as razões que justificavam essa avaliação está o perigo de se
vincular o financiamento da educação ao desempenho de um item da economia. Esse
perigo diz respeito tanto à educação, que não pode depender do nível de
exploração e da cotação dos recursos do pré-sal, como da política energética
nacional, a qual poderia ser afetada negativamente pela necessidade de gerar
royalties destinados à educação. Outra questão importante é referente ao volume
de recursos dos royalties do pré-sal, o qual seria pouquíssimo significativo
frente à necessidade do setor educacional, o que justifica o uso da expressão
“ilusão” acima.
A plena continuidade de
todos os problemas educacionais – uma pequena redução de alguns combinada com o
agravamento de outros – desfaz totalmente a ilusão do pré-sal, a qual apenas
serviu para adiar o enfrentamento do problema do financiamento público de nossa
educação. E, vale lembrar, esse financiamento é uma obrigação tanto do governo
federal como dos estados e municípios, em cujas redes está a enorme maioria dos
estudantes da educação básica. Continuar com a prática de não financiar
adequadamente a educação e criar ilusões, como a do pré-sal, é uma forma de
construir hoje o atraso futuro do país.
Esta limitação é ainda mais verdadeira quando acompanhamos o movimento do Congresso para aprovação do projeto que altera o marco regulatório do pré-sal..com a anuência, implícita do executivo...tristes dias..
ResponderExcluirMuito bom o texto!
ResponderExcluirHá quem não esteja preocupado com a educação pública?
Pelo visto, os governantes desse barco furado...