Publicado na Scientific American Brasil, Setembro/2012
Precisamos atrair bons estudantes para a carreira docente e convencê-los a se dedicarem à tarefa para a qual foram formados. Mas, embora necessário, isso pode não ser suficiente. Por melhor que a formação, se um professor não encontrar um bom ambiente escolar, ela de pouco adiantará. Assim, se um país não oferece bons ambientes escolares, terá dificuldades em atrair os jovens para a carreira docente e fixá-los nas escolas. No Brasil, precisamos superar muitas barreiras.
A grande maioria dos professores da educação básica atua em escolas públicas, onde está a maioria dos estudantes. Nessas escolas, os salários dos professores com curso superior completo são, em média, próximos da metade da média salarial dos demais trabalhadores com mesmo nível de formação escolar. Essa é uma enorme barreira. Na verdade, nas áreas das ciências básicas, muitos cursos de licenciatura nem esgotam as poucas vagas oferecidas. Mas desestímulo salarial ainda cria outra dificuldade: para compensar a baixa remuneração, muitos professores têm carga excessiva de trabalho, o que significa pouco tempo para preparar aulas, estudar, atender aos alunos, corrigir trabalhos etc..
Mas mesmo uma pessoa bem formada e motivada encontrará uma barreira adicional para continuar a ser um bom professor: o tamanho das classes, grandes demais para permitir uma devida atenção aos alunos, e conhecer suas dificuldades e interesses. Para superar esse obstáculo, é preciso mais professores em atuação. Há, ainda, a carência de infraestrutura das escolas: laboratórios, bibliotecas e mesmo salas de aula adequadas, o que dificulta ao professor bem formado continuar sendo um bom professor em sala de aula.
O número insuficiente de professores implica carências em determinadas disciplinas. Há ainda as barreiras econômicas. Embora a escola pública seja gratuita, frequentá-la tem um custo financeiro, pois gera despesas adicionais para as famílias, tanto por induzir gastos como pelo fato de que, ao estudar, o jovem ou a criança não pode ajudar nas tarefas domésticas, provocando, eventualmente, perda de renda de outras pessoas que trabalham. Assim, faltas de alunos são comuns, o que leva muitos estudantes a fircarem defasados. Se bons estudantes dependem de bons professores, o reverso também é verdade. É difícil ou mesmo impossível ser um bom professor se os estudantes levam para as escolas graves problemas domésticos.
Um bom professor deve poder adaptar suas aulas às necessidades de seus alunos, claro que respeitando as exigências curriculares. Mas muitas redes públicas de ensino avaliam seus professores com base no desempenho de seus alunos em testes padronizados e oferecem livros e apostilas também padronizados que devem ser seguidos. Pressionados pelo processo de avaliação, que pode gerar prêmios e punições, os professores perdem a chance de adaptar suas aulas aos interesses, limitações e necessidades de seus alunos. Não há como encorajar o conhecimento, a criatividade e o interesse natural das crianças e dos jovens com tantas amarras.
Temos muitos dos problemas existentes nos EUA e apontados por Pat Wingert [referência a artigo publicado na mesma edução do Scientific American Brasil]. Mas temos ainda outros, ainda que sejam solucionáveis. Neste momento, o Congresso Nacional discute um Plano Nacional de Educação, com duração de dez anos. Esse plano têm muitas metas ambiciosas, mas factíveis, se uma delas, a do financiamento da educação pública, for aprovada. Se isso ocorrer, em não mais que uma década nos livraremos de um sistema educacional que compromete o desenvolvimento social e cultural e que afeta o aumento da produção de bens e serviços. Nesse caso, também nossos cursos superiores de formação de docentes se tornarão atraentes, as classes serão menores, os professores terão cargas de trabalho adequadas e as escolas serão bem equipadas. Então, teremos condições para que todas elas tenham bons professores.
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